AS CEREJEIRAS E O SALGUEIRO: A LENDA DA aNTI-RESISTÊNCIA DO JUDÔ

Perto de Nagasaki, vivia um médico-filósofo chamado Shirobei-Akyama . Estava convencido que a origem dos males humanos resultava da má utilização do corpo e do espírito. Este percursor da medicina psicosomática partiu para China onde, diziam, as técnicas terapêuticas faziam milagres.

Estudou os príncipios do taoismo, da acupuntura e algumas técnicas do famoso wu-chu, luta chinesa que utilizava as projecções, as luxações e os golpes, criada por um médico tanto para o restabelecimento rápido dos convalescentes, como para o desenvolvimento harmonioso do corpo.

Voltando ao Japão, Shirobei-Akyama ensinou a alguns discípulos uma vintena de técnicas de reanimação e três ou quatro ataques, visando determinados pontos vitais. Compreendera o princípio positivo da filosofia taoísta, assim como as suas aplicações práticas, quer na medicina, quer na luta. Ao mal, ele opunha o mal; à força, a força. Mas, ante uma doença difícil de definir ou demasiado grave ( ou de um adversário demasiado forte), os princípios chineses falhavam.

Os discípulos do médico, desencorajados, abandonaram-no. Este perplexo, retirou-se para um pequeno templo e impôs a si próprio uma meditação de cem dias. No decurso desta ascese, o espiríto de Shirobei atingiu uma tensão extraordinária. Tudo fora posto em questão: a filosofia chinesa yin e yang, a acupunctura e, por fim, todos os métodos de combate. A questão final que o torturava era: Se, uma vez que ataco, eu sou positivo, sou por conseguinte negativo assim que sou atacado. Ora, opor uma ação a outra ação não é vantajoso a não ser que a minha força seja superior à força adversa.

Como poderei então ser negativo ( em defesa ) se tomo a iniciativa da ação? Pois se ação positiva é sempre aniquilada por uma ação positiva mais importante, como conjugar tal coisa até ao completo domínio?

Passeava uma certa manhã no jardim do templo enquanto nevava abundantemente. Escutava o estalo dos ramos das cerejeiras quebrando sob o peso da neve. Mas , de súbito, avistou um Salgueiro na margem do rio. O peso da neve curvava os seus ramos, mas o tronco flexível logo se desembaraçava do seu fardo, retomando a primeira posição. A solução surgiu-lhe como um relâmpago! Ao positivo devia opor-se o seu complemento: o negativo!

À força, devia reagir-se com a flexibilidade. Se um assaltante nos empurra, não lhe façamos frente pela força, pois se sua for superior, arriscamos-nos a ser derrubados. Ao empurrão ceder rapidamente com um pronto e inesperado recuo. O nosso adversário terá, assim , tentado arrombar uma porta aberta e desequilibrando-se, cairá ao nossos pés. Se ao contrário, um adversário nos puxa, não nos cansemos numa vã resistência, acompanhemos o sentido da tracção e então, beneficiando do desequilibrio do agressor, derrubemo-lo sem grande esforço.

O médico de Nagasaki aperfeiçoou então o ataque e a defesa, na luta corpo a corpo, criou algumas centenas de golpes.Os seus discípulos propagaram os seus ensinamentos sob o nome de Yoshin-Ryu ou “Escola do coração de salgueiro